
Leitos dos homens, mãos dos rios
Meu rio chora,
e todo ele é uma enorme lágrima
— de tristeza e de pesar
por seus irmãos assassinados.
Irmão Tietê, irmãos amazônicos e tantos outros
sepultados inteiros na ganância humana
— cadáveres putrefatos de extensa agonia.
Meu rio chora,
pelas pedras e pelas ilhas
— um choro de prata e de ouro.
Meu rio tem medo,
da incerteza que há após aquela curva
— medo infindo do seu desamparo de velho,
medo de ter o fim de tantos outros.
Meu rio treme,
numa extensa paranóia poluifóbica
— medo líquido de amanhecer não mais eterno.
O meu rio, ah! o meu rio...
Nada sabe da vida nem de mortes,
nem de egoísmos, de ganâncias, nem dos abismos humanos:
só quem o olha vê nele reflexos seus
— reflexos das lágrimas, das tristezas, dos pesares,
dos instintos assassinos, da ganância e da podridão
que não o rio, e sim eles sentem.
O meu rio é feliz:
apenas passa
— sem saber que sua vida eterna e extensa
repousa no leito da limitada mão mortal humana.
Nenhum comentário:
Postar um comentário