Uma morte na cidade
O poeta descia por uma rua,
absorto, escrevia por dentro um verso
sobre a cidade, sobre a vida, sobre o nada...
Seguia, assim, sabendo-se poeta.
O poeta descia por uma rua,
e numa esquina, a vida real,
um carro inútil, a vida inútil,
um carro real, a vida real,
colheu o poeta, plantando-o na parede.
O poeta não desce mais a rua:
jaz inerte na calçada;
a poesia que trazia dentro
escorrendo da cabeça, congestiona
o caminho das formigas.
Na manhã seguinte, estamparam-se manchetes:
um homem havia morrido, era muito distraído.
Um homem... um homem havia morrido...
A cidade real, concreta, que continuou na manhã seguinte,
nada sabia do poeta
(nem que ele havia deixado inconcluso um verso...):
apenas tinha pressa. Tinha pressa. Pressa...
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