sábado, 15 de setembro de 2007



Mamíferos*

Os teus dois seios parecem dois cervotinhos,
filhos gêmeos duma gazela.
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A tua estatura é semelhante a uma palmeira,
e os teus seios a dois cachos de uvas.

              Cântico dos Cânticos

Amamos a rigidez muscular oculta sob sedas.
Amamos a fragilidade morena, rosada, clara, cor de leite, ébano.
Amamos a sua geometricamente cônica forma.
Amamos o desejo indisfarçado de vê-los no seu natural
abandono.
Sabemos os segredos de todas as Evas.
Sei-os, sabes, sabemos —
E os queremos, tentamos ao menos.
Desejamos descobri-los, tocá-los, comprimi-los,
Reviver nossas refeições infantis,
Sentir seu calor maternalmente erótico.
Desejamos em sonhos diurnos, noturnos, quiméricos.
Sabemos o óbvio de todos os corpos femininos.
Sabemos, sabes, sei-os —
E inevitavelmente os queremos:
Com todas as suas fragilidades cutâneas, carnais, felinas.
Sim, amamos, sem medidas (nem tamanhos),
Naturalmente, instintivamente , brasileiramente...
Mas sem afetação psicológica —
E atestados do INSS de que não somos tarados.


*Poema assinado sob o pseudônimo João da Rocha.

domingo, 9 de setembro de 2007



Ciclo urbano*

Os idiotas interioranos
sonham em ir para a capital.
Os capitalistas em ir para o “Coração do Brasil”.
Os neuróticos (além de às putas) para onde se fale inglês.
E los gringos, com que será que sonham?
Em passear de submarino por um rio marciano?
Que nada:
sonham em ser idiotas interioranos.


*Poema assinado sob o pseudônimo João da Rocha.

sábado, 1 de setembro de 2007














 
Eletrochoques*

Sou contra a revolução pela revolução.
Revoluções devem ter metas atingíveis.
Pra que gastar energia
dando eletrochoques em defuntos?
Os terceiros mundos estão mortos
e em adiantado estado de putrefação.
Minha pátria? Mais ainda!
Esse nordestezinho-agrestal? Mais ainda!
Minhalagoazinhas? Mais ainda!
Penedos, Jaboticabais, “minha terrinha”?
Muito, muito mais ainda!

Nos Esteites, nas Oropas, nos Japães
existe vida intelectual-raciocinante
e mesmo assim continuam buscando a morte —
nas mais diversas formas de suicídio.

04/05/90

*Poema assinado sob o pseudônimo João da Rocha.