segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

Outras navegações


Fernando Arthur Martins recita Lêdo Ivo

domingo, 20 de janeiro de 2013

Poemas do livro "Folhedo" (Continuação)


                      Ruas de espuma

              Não, não tente me vender
              tuas palavras vazias.
              Não será meu o teu terno de alegoria
             - e isso bastaria
              para eu te dizer não.
              Mas eu tenho ainda a minha dor
              e a solidão;
              e o meu caminho de pedras é bem mais verdadeiro
              do que as tuas pontes vazias de ilusão;
              as minhas ruas concretas de espuma
              são bem mais belas do que o concreto das tuas...
              Eu sou um sonhador,
              eu sou um sonhador
              e terei a decepção...
              Mas não espere muito que eu me venda:
              eu posso morrer amanhã...
              Enquanto isso vou erguendo
              meus castelos de lã...
              Eu sou um sonhador,
              eu sou um sonhador (eu sei...).
             Mas não tente me vender
             tuas palavras vazias...
             Não será meu o teu terno de alegoria...

terça-feira, 15 de janeiro de 2013


              Quando

              Houve uma tragédia ontem.
           Chamem um poeta.
           Que ele coloque em palavras
           a dor do absurdo que presenciamos.
           Houve uma tragédia ontem.
           Que o poeta nos explique e nos console.
           Que ele nos faça prosseguir,
           na manhã seguinte.

terça-feira, 8 de janeiro de 2013

                       Bailarinos noturnos
Eles são bailarinos.
Executam seus silenciosos bailados
nas ruas vazias.
Não nas ruas vazias dos homens
(que são donos delas),
mas nas ruas que eles mesmo fazem
(tortas, sinuosas, sem atmosfera,
onde todos os corpos estão sempre
a cair infinitamente),
nas ruas que só eles veem,
nas ruas que mesmo vazias e tortas,
estão sempre cheias e certas e lindas
(lindas como só eles podem ver
dos homens as ruas vazias).
 
Não importa que bailar ninguém os veja,
que só a lua os observe:
eles bailam e flutuam na sua rua imaginária,
e são ebriamente felizes.
Não importa se amanhã a rua será
novamente dos homens:
eles dançam adormecidos e são felizes
nesse momento.
 
Que ninguém tente despertá-los.
(Por que, se nesse momento são felizes?).
Como a rua vazia, impassíveis, deixemos
                                                           [eles
- que é dos homens,
não dos bêbados, a realidade.