terça-feira, 26 de março de 2013


       Sem nome I
Esta maldição
de ter que falar da dor,
do que todos vêem mas não falam,

do que todos falam mas não vêem
– nascemos com ela.
 
(Calíope, do alto do seu trono,
aponta o menino).
 
E lá se vai ser palhaço
do Grande Circo
– como se o mundo precisasse tanto de bobos
quanto de cortes.

terça-feira, 19 de março de 2013


                       Sem nome II

              Estes brinquedos de letras
              condenados sempre à solidão das gavetas,
              à morte lenta das traças,
              à indiferença rude de tantos esquecidos
              e a rolarem ao vento que varre estas sarjetas
              - são como aqueles encantos de crianças
              com os quais brincávamos, inocentes,
              e depois, saciados, envelhecidos, vazios,
              os jogávamos no quarto escuro da desimportância.

              Estes brinquedos, o que são?
              São estas coisas-poemas
              fabricados de ilusão.

quarta-feira, 13 de março de 2013


                                         Sobre os sonhos
Quase sempre,
caminhamos com as costas voltadas para nossos sonhos.
E assim, quanto mais avançamos, mais deles nos distanciamos.
Como não podemos olhá-los de frente, imaginamos apenas.
Mas, a vida dá voltas (muitas voltas)
– “O mundo é um moinho” –
e é por isso que mesmo estando de costas
para aquilo que sonhamos,
podemos casualmente, ao dobrar uma esquina,
ir ao seu encontro.