domingo, 27 de novembro de 2016

Poemas do livro "Folhedo" (Continuação)












Faces

Se ando
elas me perseguem,
me observam das esquinas, dos becos e das ruas;
contorcendo-se moles em espantos
me analisam, me cheiram,
me tocam e me tateiam,
revolvem calmas meus defeitos.

Se paro
no bar da esquina do beco de uma rua,
para tentar esquecê-las,
elas me encaram
me indagam e me cobram;
algumas, flácidas, choram,
outras, rígidas, me estranham;
advinham e descobrem em mim
alegrias e desesperos tamanhos
que talvez tantos nem tenho.

Estou farto de fisionomias
– de faces, de rostos e de caras vazias,
de faces perfeitas, felizes,
de rostos limpinhos, dominicais,
de caras falsas, amáveis.

Antes houvesse somente a rigidez óssea,
ocular de órbitas vazias;
a alvura terrível que se esconde sob elas.
Antes fossem todas as cabeças nuas, caveirentas
– que mostrassem em detalhes as mazelas
e todas as aterrorizantes verdades
cruas.