quinta-feira, 31 de maio de 2018

Poemas do livro "Folhedo" (Continuação)












Da solidão dos seres

A dor do ser só
é como a dor que flui naquele rio
– eternamente a correr para o mar:
imutável, monótono, ao pé daquela montanha.

A dor do ser só
é como a dor que naquela montanha dói
– indestrutivelmente estática sob o Sol.

A dor do ser só
é como a dor que o Sol sente
– ano após ano queimando dentro dele
para iluminar meros planetas.

A dor humana do existir é passageira sim:
eterna é a dor das coisas eternas
– imutável, estática, indestrutível.

Mas os seres eternos, como o Sol
não sentem dores, decerto:
só quem os observa sente neles dores suas.
Dores de recordações, dores da sua solidão
– que não os seres e sim eles sentem.

A dor passageira do ser só
dói mais do que a dor eterna
de nada sentir.