domingo, 28 de abril de 2013

Poemas do livro "Folhedo" (Continuação)


                 Curriculum vitae

Acho-me poeta.
Muitas vezes vagando por dentro de mim
me acho, escrevendo versos.
Escrevendo versos acho e acha-se a poesia
(mesmo quando não quero),
vagando por dentro de mim.
Estou sempre poeta então,
mesmo que nem mesmo eu veja
acho-me sempre – por dentro de mim – poeta.

quarta-feira, 3 de abril de 2013













 
 Veraneio

Quando a vida me der uma folga
que seja como um feriado, desses inadiáveis;
que seja como um fim de semana prolongado,
sem segunda-feira pra voltar pro batente,
voltar às lutas vãs,
às dúvidas e certezas (certas ou não);
que seja só o silêncio,
o enorme silêncio do vazio
e a inconsciência de que tudo é silêncio;
que seja só escuridão,
a morna escuridão para que eu durma
                                              [profundamente      
e a inconsciência de que tudo é escuridão.
Que ninguém me venha incomodar,
que ninguém me venha com respostas, correções,
nem sons e luzes e ações;
que ninguém me venha com Deuses-Patrões,
cobrando o que fiz ou deixei de fazer,
nem com desnecessárias recompensas celestiais.
Que ninguém me venha com estórias dos homens
que famigerados ainda não tiraram férias.
Não me importarão seus negócios monetários,
não me importarão mais suas lutas,
não me importarão mais suas descobertas futuras...
Que ninguém me venha incomodar com essas coisas,
pois não vou querer mais nada disso:
estarei de folga permanente, eterna;
vou querer apenas a inconsciência
e a inconsciência de estar inconsciente.