sábado, 25 de agosto de 2007

















    
                  Enigmas*

           Anfisbenas
           transbordal
           bendegós
           NASA
           tabela de co-senos
           dificuldades rácio-lógico-ordenal

Decifra-me
ou me devoro
e aqui pra nós: pelo amor de Deus!
— se não morro de fome!

*Poema assinado sob o pseudônimo João da Rocha.

segunda-feira, 20 de agosto de 2007

Verso maior



Minha estrela

Nasci pobrezinho, qual ave do bosque;
Eu tenho uma estrela que Deus me guiou,
— Um cetro supremo e sublime da Artista ―
E nem por impérios tal estrela eu dou.

Eu trago na fronte tão loiro diadema,
Mais loiro e mais lindo que a luz das manhãs!
O sol me desperta em meu leito de espinhos,
As flores dos campos são minhas irmãs.

Debalde a riqueza me cobre de insultos,
A inveja tropeça na linha em que vou,
Eu tenho uma estrela radiante de Artista,
É um timbre infinito — foi Deus que timbrou.

Sou órfão de amores, sou pobre de afetos,
— Não tenho carinhos jamais de ninguém —
Eu tenho uma estrela suprema de Artista
E tenho uma glória que muitos não têm.


Sabino Romariz*

*poeta maior penedense (1873-1913).

sábado, 18 de agosto de 2007

Do livro "Ruas e rios" (continuação)
















 
 Meninos (do bairro e do barro) vermelhos*

Os meninos do bairro vermelho
não são comunistas não
São come dores do barro vermelho
que a pátria cria
Pálidos canibaizinhos, antropófagos literais
de en carnados barrocais.


* Poema assinado sob o pseudônimo João da Rocha.

sábado, 4 de agosto de 2007



De Toupeiras e Túneis Lendários*

Disse-me um amigo
(e aos loucos cabe a essência das coisas verdadeiras)
que vieram ao Brasil os frades
não para sagradas palavras pregarem
na dolorosa rotina dos deveres pastorais
mas para largos buracos cavoucarem
tal qual toupeiras divinais
— profundos túneis imaginários
nas terras brasileiras.


21/08/90

* Poema assinado sob o pseudônimo João da Rocha.


Grama ti cais*

Sempre amei os gramáticos
— dóceis velhinhos de lindas cabeças branquinhas.
Nunca conversaram com o povo
nem sabem onde ele mora...
Mas falam muito bem sua língua,
defendem com unhas e rugas suas cadeirinhas.
Não sei se devo chorar a língua — que é morta —
ou a eles, que a querem assim, defuntinhos.
Ambos, certamente, merecem nossas mais sinceras
condolências.


* Poema assinado sob o pseudônimo João da Rocha.









 
Perestroika*
 
Mil vivas a Gorba
(e sua manchinha craniana)
pela capacidade (insana?) de invalidar
anos e anos de utopia...
Marx, meu velho, tua fome foi em vão...
Camarada Lenin, dorme... tua luta foi em vão...
Trotsky, pobre de ti... tua fuga foi em vão
novamente...
Stalin, Stalin... tua megalomania teve por fim
alguma serventia.
Mil vivas ao triunfo do egoísmo humano
e sua apologia.
Uma prece fúnebre ao sonho impossível
da igualdade humana...
Que venha a perestroika da vizinha...

*Poema assinado sob o pseudônimo João da Rocha.