quarta-feira, 3 de outubro de 2007

Do livro "Ruas e rios" (continuação)

















O Salto*

Um João anda pelas ruas cheias de Zés e de Marias.
Anda pelas ruas que lhe levam a lugar nenhum.
João pega um ônibus e corre atrás de seus sonhos
(Que não andam de ônibus, voam)...
João vai trabalhar na sua decepção dos outros.
João bebe amarguras.
João, sentado na praia, conta as ondas inúteis do seu Mar
(Que está de ressaca)...
Na segunda-feira, João sobe num viaduto e não flutua no ar
(Como se fosse pássaro).
Quem é João? (caindo).
Quem foi João? (bateu, espatifou-se).
Um herói? Um poeta? Um louco? Um covarde?
Quem seria João?
Ninguém sabe...
Nem mesmo ele sabia.
Passou na vida procurando respostas:
Nas ruas, nos ônibus, na decepção, nos copos, à beira-mar...
João agora é uma mancha vermelha no asfalto
E uma manchete nos jornais.
Pobre João...
Agora João é as estrelas,
É as pedras e o ar,
Poeira, terra e micróbio,
Rio, cachoeira, fogo e mar.
João é partículas esparsas.
João ficou eterno.
João virou Deus.


*Poema assinado sob o pseudônimo João da Rocha.

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