sábado, 6 de setembro de 2008

Do livro "Beco e labirinto" (continuação)


                    Para quem
      
      Esta noite
      Este canto solidário
      Para os que vagam tristes
      Para os que decidiram por fim
      Lançarem-se da última janela
      Para a rota vertical rumo à dura calçada
      Para os tristes insones que pela primeira vez
      Vislumbraram o nada da vida
      Para os que jazem presos à vida
      Pelos lábios purpúreos de uma vagina
      Ou ao fundo opaco de um copo
      Para os que vagam ébrios
      Pelas cloacas das grandes urbes
      Para os que morreram muitas vezes
      E ai deles vezes infindas ressuscitaram
      Para os que perderam seus princípios
      Para os que se traíram
      Para os que perderam a mãe
      Para os que perderam o último pênalti
      Para os que perderam o último trem
      Para os que perderam todas as certezas
      Para os que perderam a poesia também
      Para os que perderam
      Para os que ganharam a morte
      Para os que ganharam... uma sogra
      Para todos estes, e os outros
      Este cântico
      Este pouco
      Esta certeza de sermos muitos
      E de que a noite dura
      Nos é pouca.

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