quinta-feira, 1 de janeiro de 2015

Verso maior


                   





Cabeça

Companheiros,
aqui está minha cabeça.

Além dos telegramas, dos jornais, dos partidos,
não sei se valerá mais que uma laranja;
talvez seja inútil até mesmo para o inimigo.
Mas é a única coisa que vos ofereço.
Se houver alguma luz, utilizai-a;
talvez sirva apenas para marcar o caminho
como uma pedra.

Não julgueis que a valorizo, seu único valor
é não ter preço;
ninguém a comprará, ela nada valerá
e por isso ficará no chão, enterrada no chão
como uma pedra.

Companheiros, aqui está minha cabeça.
Dela nasce e escorre este filete insignificante:
talvez seja poesia.

J. G. de Araújo Jorge*

*poeta acriano (1914-1987), considerado, apesar de ser um dos poetas mais populares e que mais vendeu livros na história da literatura brasileira, um poeta menor; poema incluído no livro “Canções”.

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