sábado, 6 de outubro de 2007



Deus Século XXI*

Em verdade em verdade irmãos, vos digo: oremos
ao Deus da nova era
ao Deus lógico do Big Bang, ao Deus cético
ao Deus sem barbas nem túnica.
Oremos ao Deus indecente, eroticamente nu
ao Deus sem forma nem formalidade dos cultos
ao Deus sem trono nem tribunal
ao Deus-álibe, ao Deus cúmplice.
Oremos ao Deus informe e desumano
ao Deus comunista? capitalista? político-corrupto?
ao Deus do livre arbítrio social
ao Deus do “que se matem”
ao Deus do “que morram secos de seca”
ao Deus do “não farás a SENA”.
Oremos ao Deus que não criou as sociedades
nem os céticos, nem os místicos, nem os comunistas
nem os capitalistas-políticos-corruptos
nem os assassinos, nem o Nordeste, nem a seca
nem os nordestinos.
Oremos ao que nunca fraudou a Previdência
nem a Caixa Econômica.
Oremos ao que não existe.
Oremos ao que só não existe no homem
(já que orar a nós mesmos tem sido constante).
Oremos à chuva, à terra lindamente ressecada, aos cactos.
Oremos ao Sol que é a seca que é Deus.
Oremos às matas e aos rios eternos
aos montes, cavernas, às estrelas que brilham
aos vermes, bacilos, minhocas e esquilos.
Ou melhor: oremos ao mundo
(já que esse Deus-não-egoísta não aceita bajulações
nem sair na capa da Times
e prefere o anonimato de suas auto-realizações).
Oremos à dúvida.
Oremos à capacidade humana de duvidar e destruir até
(pasmem!) os Deuses. Oremos
Mas em verdade em verdade, vos digo:
Deus nenhum lhes escutou ou escutará.
Irmãos racionais, irracionais e inocentes
oremos ao e para o Mundo.


*Poema assinado sob o pseudônimo João da Rocha.

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