terça-feira, 27 de novembro de 2012

Verso maior



           Tecendo a Manhã                            
                                     
                                    1

       Um galo sozinho não tece uma manhã:
       ele precisará sempre de outros galos.
       De um que apanhe esse grito que ele
       e o lance a outro; de um outro galo
       que apanhe o grito de um galo antes
       e o lance a outro; e de outros galos
       que com muitos outros galos se cruzem
       os fios de sol de seus gritos de galo,
       para que a manhã, desde uma teia tênue,
       se vá tecendo, entre todos os galos.


                                     2

      E se encorpando em tela, entre todos,
      se erguendo tenda, onde entrem todos,
      se entretendendo para todos, no toldo
      (a manhã) que plana livre de armação.
      A manhã, toldo de um tecido tão aéreo
      que, tecido, se eleva por si: luz balão.


           João Cabral de Melo Neto*

*poeta pernambucano (1920-1999); poema do livro “A Educação pela Pedra”.

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