sexta-feira, 13 de abril de 2007



Essa inutilidade

Na madrugada calma,
(lá fora, a noite dura)
dentro ainda do seu solitário quarto,
o Poeta, insone, ainda busca
uma rima...
Mas o verso não vem.
As palavras morrem.
As palavras,
sabedoras de sua grande inutilidade,
morrem,
sorrindo como suicidas
(lá fora, um mundo torto gira).
Mas o Poeta, insone, ainda busca
uma rima certa...
Só ele sente a dor
das palavras que não vêm
e morrem.
As palavras não:
morrem felizes, virgens, puras.
Sem a contaminação da língua,
sem a vaidade áspera do papel,
sem a ambição efêmera da tinta,
sem a monotonia reta das linhas
(lá fora, a noite dura).
Mas o Poeta ainda assim persegue
uma rima amável...
Por quê?
Não sabe da grande inutilidade
das palavras
como as palavras sabem.
E assim, as palavras vão morrendo,
felizes,
deixando o mundo torto a girar sempre
e o Poeta dentro do grande mundo
torto
a girar insone...

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