domingo, 2 de março de 2008


                      Minha herdade

          Oh, alva planura, minha herdade...
          Parece-me terem dito:
          – É isto o que lhe cabe.

          Desde então tenho vagado por entre tuas farpas;
          tentado nas noites ermas
          encher de palavras teus quartos vazios;
          com minhas mãos desnudas
          buscado fazer germinar de tua aridez
          flores, ramas de hera, qualquer coisa viva.

          Herdade, herdade
          eu te maldigo, eu te reverencio;
          temo a solidão dos teus escombros,
          as mil portas de teu labirinto de espinhos;
          o frio noctívago de teus campos incultivados,
          teu cheiro de coisas mortas, bolor de velhos
          escaninhos.

          Herdade sombria,
          minha inutilidade;
          preso em ti
          vivo em ti, liberto;
          meu tudo
          meu nada,
          sucessão árida
          desta triste espera.

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