domingo, 2 de março de 2008


                     Do Caminhador

Na noite do Grande Deserto,
o Caminhador, vaga pelas areias ondulantes
com a sua solidão, com a sua dor, sua tormenta;
e quando uma fria aragem sopra do oriente,
o Caminhador, subindo a um monte,
ergue sua mão esquálida,
desamparando seus olhos cegos
que a areia bate, que a areia, areia;
e com a sua mão erguida assim para as alturas,
por entre o caos da ventania, o Caminhador,
espera uma folha desprendida de uma árvore
que só em sua quimera existe além...
Assim, o Caminhador, toma por vezes dessas folhas
que o acaso recolhe à sua mão cansada
de esperar tanto; e vergado pelo tempo, o Caminhador,
recolhe-se a um breve abrigo, para contar as folhas
desta sua pobre pescaria.
Passa assim seu tempo, o Caminhador...
a ver as suas folhas e separá-las,
por sua cor, sua textura, pelo sabor, pela amargura
organiza o seu caos noites inteiras
nesse labor inútil de desventuras, o Caminhador.
Pobre Caminhador,
este folhedo que possui como tesouro
é tudo o que lhe resta,
é seu cobertor, será seu túmulo,
sua glória que não terá.
Feliz Caminhador,
o deserto lentamente o absorve,
e um dia, finalmente
a grande ventania o levará
com suas folhas, como a areia...

Nenhum comentário: