domingo, 2 de março de 2008


              Luz, estigma

Porque aqui
a luz é sempre muito parca.
Aqui a luz pende em réstias
de furos numa escura cobertura,
sobre uma superfície em penumbra.

Porque aqui
em volta de uma luz assim mortiça,
aglomeram-se por vezes uns famintos poucos
que em desespero tentam vislumbrar,
pelos tênues orifícios,
um breve momento de infinito.

E cai a luz,
aqui sobre um crânio calvo,
ali, sobre uma magra espádua,
além, os rins de um velho cinge.

(Na verdade, a pouca luz que me coube
mal dá para urdir estes versos toscos).

E giram, giram
e assim girando em torno
dos minúsculos pontos luminosos,
são eles tocados de luz ao acaso,
enquanto nas alturas desanda
o infinito orbe.

(Sim, os deuses todos foram perversos conosco...
Por que abrindo em precipício
esta escuridão que nos encobre,
não deixaram eles que nos inundasse
a mais completa luz?).

Eis entanto que aqui, poucos são os chamados
e muito menos os escolhidos. E ainda assim,
aqueles que foram tocados pela claridade,
não a recebem como uma dádiva
mas sim, como um estigma.

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