sábado, 8 de março de 2008


                               Árvores

Num dia de verão, dentro dos meus olhos,
negras nuvens encobriram o sol que para todos brilha,
e eu caminhava pela estrada onde todos passam,
com o peso da fadiga sobre os ombros,
e o peso dos meus ombros sobre mim mesmo.
Tudo era escuridão na claridade.
Tudo era nada e nada a esvaziar-me.
A luta: o esforço último e desumano de não me vergar.
Ergui os olhos de terra e chão cansados,
olhei o horizonte por entre escuras nuvens, e vi
diante de mim uma enorme árvore, verde como esperança,
que sorrindo feliz pelas folhas e pelo tronco, disse-me
com a sua voz de farfalhar ao vento:
“Senta sob a minha sombra!
Toma minha calma pelas minhas folhas,
e minha força pelos meus galhos.
Toma a minha verdade como tua: o sol
brilha pelos bosques, veredas, abismos e caminhos,
e toda a luz que há em tudo, sai dos teus olhos”.
Olhei o horizonte por entre as nuvens claras, e vi
diante de mim, a luz dos meus olhos.
Tudo era tudo a preencher-me,
e eu caminhava feliz por um caminho de luz. Não mais
baixei os olhos, nem os tirei das belezas da estrada...
A gratidão: o esforço saudável e humano de não me esquecer.
Lancei um olhar ansioso em busca da árvore amiga,
e deparei-me, com a mesma árvore do outro dia,
tristonha e pálida. O peso enorme de si mesma sobre si,
as lágrimas como gotículas de orvalho de prata
a escorrer pelas folhas frias.
Sorri feliz pelos olhos e pelos poros, e com voz
trêmula e humana, disse-lhe:
“Banha-te sob a luz dos meus olhos!
Toma a minha energia pelas minhas mãos, e da terra
que te coloco sobre as tuas raízes nuas.
Toma minha força das palavras de minha boca.
Toma a minha verdade como tua: o sol
brilha pelos bosques, veredas, abismos e caminhos,
e toda a luz que há em tudo, sai das tuas folhas”.
Olhamos o horizonte por entre as nuvens claras.
Tudo se fez azul na imensidão.
Tudo era tudo a preencher-nos,
caminhávamos felizes por um caminho de luz
num dia de verão...

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