segunda-feira, 13 de junho de 2016













A terrível noite

E se na madrugada
infiltra-se sob a pele
essa vontade de maldade
– por demais terrestre
projeto terrificar o mundo.
Matar as libélulas,
estraçalhar as flores,
oprimir com pé tirano
tudo o que me seja inferior
e frágil.

Contudo, estas mãos que me foram dadas,
contudo, este coração no peito posto,
este amor demasiado
e esta consciência a me recriminar, dizendo:
– Estás perdendo a humanidade.
Chafurdas já na tua lama,
porco medíocre, medíocre, medíocre...

(Vai a noite
e a manhã é chegada.
Já não sou um nem outro,
sou um terceiro
– que recorda).

Estar assim, sempre dividido
entre a alma voltada para as alturas infinitas
e o sangrar dos pés na estrada áspera;
nunca ser um todo, mas mutante
– eis a trágica condição do ser
existindo.   

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