sexta-feira, 19 de outubro de 2007



A Ilha Circunscrita (Marasmos)

Os dias são ondas crônicas no vaivém,
E a praia sempre está estupidamente vazia,
Cheia de tédio, solidão e só...
Nem um náufrago mal morto nela aporta,
Nem um farol vermelho brilha na noite morta...
Só ondas batendo pesadamente numa rocha surda,
E à noite, bilhões de lâmpadas com defeito
Piscando na cobertura da minha ilha...
Mas...
Pela manhã eu pesco nada e sonho,
Com a terra-continente que me sufoca
Com mil planos de fuga,
Que resultarão em tudo aquilo que nunca farei...
E então, continua todo do mesmo jeito:
As ondas crônicas,
A praia vazia,
O dia de pescaria...
E lá se vai minha vida,
De repente, numa noite feliz, quem sabe...
Se pelo menos ele fosse vermelho...
Minha ilha seria... inconcebivelmente diferente:
Não precisaria de náufragos,
Nem de faróis vermelhos,
Nem de sonhos, de fugas, nem de planos...

Mas ele não pára de cantar,
De ressuscitar esperanças mortas,
Não pára de não me matar,
De me encher de promessas não cumpridas
Como me fazem os que passam em seus navios
Ao anoitecer
Em pé sobre a praia,
Com a cabeça cheia de garrafas vazias,
Só me resta culpá-lo por todas as coisas
Que não aconteceram na minha ilha...
Maldito mar, simplesmente azul,
Simplesmente mar.

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