sábado, 1 de novembro de 2008

Verso maior


                    DELÍRIO

      Nua, mas para o amor não cabe o pejo
      Na minha a sua boca eu comprimia.
      E, em frêmitos carnais, ela dizia:
      — Mais abaixo, meu bem, quero o teu beijo!

      Na inconsciência bruta do meu desejo
      Fremente, a minha boca obedecia,
      E os seus seios, tão rígidos mordia,
      Fazendo-a arrepiar em doce arpejo.

      Em suspiros de gozos infinitos
      Disse-me ela, ainda quase em grito:
      — Mais abaixo, meu bem! — num frenesi.

      No seu ventre pousei a minha boca,
      — Mais abaixo, meu bem! — disse ela, louca,
      Moralistas, perdoai! Obedeci....


                                Olavo Bilac*

                                                    *Poeta e jornalista carioca (1865-1918)

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