sábado, 26 de janeiro de 2008












Vinho

Meu rio de vinho imaginário...
Cheio de planos, de fugas, de estranhas
Velas... Minha embriagues, minha loucura,
Meu doce sabor de amargura...
Qual mar distante te espera?
Quantas ilhas verdes permeiam
Tuas larguras?
Curvas, brumas, velas, aberturas?...
Se ao menos te navegar preciso fosse...
Prender em finos cálices cristalinos
O teu volume... Devaneio:
Escorres incerto entre meus dedos,
Abelha, odor de flor, deserto, areia...
Velhas incertezas, curvas futuras
— Sucessão líquida da minha eterna espera...

quarta-feira, 16 de janeiro de 2008

 
Além da superfície
 
Sobre o rio velho,
dourado pela luz do sol poente,
frágil embarcação navega,
e dentro da sua rústica fragilidade
– um pescador tira sua sobrevivência
das entranhas do rio.

No mesmo rio (não nestas águas, mas em outras passadas),
ele tirava (menino que era) em outros tempos,
as delícias dos banhos de verão
– pescava sonhos...

Mas, passaram as águas do rio (como se fossem o tempo),
inevitavelmente em direção ao mar,
e levaram-lhes tiranas as delícias e a infância
– afogando os sonhos...

Hoje (velho como o rio), ele pesca sua realidade,
e há muito percebeu que quem do alto das pedras
a beleza do momento vê, nada disso sabe: o rio
é apenas um alegre e calmo velhinho dourado pelo sol
– e o pescador, quase um ponto invisível
na superfície do rio dos homens...

sábado, 12 de janeiro de 2008



Fuga

Quando adormece em mim a consciência,
ela foge do quarto escuro dos meus sonhos
e vem flutuar sobre meus desejos mais antigos.
Tento tocá-la, e ela se desfaz:
dobra uma esquina e entra numa rua real,
onde ela é apenas mais um sonho.
Na manhã seguinte,
acordo com a dor de mais uma vez,
embora em sonho, tê-la perdido...
Para esquecer, vou andar pelas ruas diurnas da cidade:
dobro uma esquina e, de repente, vou encontrá-la
na mesma rua da noite passada.
Tento me aproximar (com a certeza que não estou sonhando):
ela sorri para mim, real, concreta, amável
— e dentro de mim se desfazem todos os planos,
todas as frases ensaiadas.
Ela se vai, linda, suavemente real,
e eu fico observando-a como se fosse
uma sombra informe, inatingível...
Eu que a tive tão próximo
volto para casa e vou dormir com a dor e com a culpa
de tê-la deixado des-fazer-se mais uma vez...