Da solidão dos seres
A
dor do ser só
é
como a dor que flui naquele rio
–
eternamente a correr para o mar:
imutável,
monótono, ao pé daquela montanha.
A
dor do ser só
é
como a dor que naquela montanha dói
–
indestrutivelmente estática sob o Sol.
A
dor do ser só
é
como a dor que o Sol sente
–
ano após ano queimando dentro dele
para
iluminar meros planetas.
A
dor humana do existir é passageira sim:
eterna
é a dor das coisas eternas
–
imutável, estática, indestrutível.
Mas
os seres eternos, como o Sol
não
sentem dores, decerto:
só
quem os observa sente neles dores suas.
Dores
de recordações, dores da sua solidão
–
que não os seres e sim eles sentem.
A
dor passageira do ser só
dói
mais do que a dor eterna
de
nada sentir.