Não o escolhido de Apolo,
Anfion, este que, num sopro,
forja a sua frauta rústica.
Mais árida ainda sua senda,
este, em sua Tebas desértica,
jaz onde todos os deuses estão
mortos.
Não grandiosa muralha ergue
a melodia que o seu lábio solfeja:
aqui, só para túmulos erguem-se
pedras.
Insano, há milênios sua persistência provoca
a escuridão das locas, dos covis, das covas
dos escorpiões, dos gafanhotos, das cobras.
Inútil, apenas, esse concerto – para surdos.
Por que não se cala essa melodia?
Louca, louca, essa teimosia calma
dos que não serão grandes, nem astros,
dos que não ficarão gravados no bronze;
estúpido esse desejo de ser além
do que pode suas ínfimas asas...
Entanto, ele toca, pobre artista:
constrói a si mesmo, na sua fantasia;
faz soar seu débil gemido, que o Deserto vara
enquanto a música não pára.