sábado, 28 de novembro de 2015

Francisco Araújo no Programa "Café com Poesia" - Bloco 1

 
Francisco Araújo  conversa com o  ator Chico  de  Assis  no Programa "Café com Poesia". Entrevista gravada no dia 10 de novembro e exibido na TV Assembleia-Alagoas em 21/11/2015.

Bloco 2

Francisco Araújo no Programa "Café com Poesia". Entrevista exibida na TV Assembleia-Alagoas em 21/11/2015.

segunda-feira, 12 de outubro de 2015

Poemas do livro "Folhedo" (Continuação)


               Iluminação

Acreditou, como um louco.
Acreditou nas boas intenções das revoluções,
na honestidade das ideologias,
nos bons propósitos dos literatos,
na pureza das mulheres,
naquela desinteressada Verdade dos filósofos,
e nos poetas, ah sim, nos poetas...
Até em Deus, este ser incerto e tão distante,
nas suas noites de demência, contritamente, acreditou.
Não o avisaram do Jogo.
Não disseram que não era bem assim.
Não disseram, não disseram, desgraçadamente.
E ele, oh, como um louco, ingenuamente, fez disso tudo
a sua Fé.
De modo que ei-lo aqui, lúcido e desperto,
perdido nesta encruzilhada.
Perdido no mundo, perdido para o mundo, covardemente 
                                                                                [persistindo.
Inútil, sem rumo, sem nenhuma esperança, só, sem nada.
Sem a coragem dos maus ou a grandeza dos santos...

E no silêncio das madrugadas,
em sua carruagem dourada,
só a morte, envolta no seu negro manto,
tem perpassado, constante, a acenar
com a sua libertação-transmutação, absoluta.

sábado, 19 de setembro de 2015














O Nada

Achei-me um Deus,
e do alto da minha perfeição vislumbrei desdenhoso
a humanidade imperfeita, egoísta e rastejante
nas profundezas escuras de um abismo sem fim.
Caí.
E a grande perfeição estava no fundo
como realmente era: uma grande imperfeição...
Ponderei: um verdadeiro deus não se olha no espelho
nem se sabe deus e perfeitíssimo.
Um verdadeiro deus é, e se contenta em não ser.
Achei-me, então, humano,
com todos os defeitos, micróbios e bacilos
a corroer-me como o tempo.
Vislumbrei-me rastejante, imperfeito e egoísta
nas profundezas lodosas de um abismo
a espera de um deus imaginário que do alto da sua perfeição
estendesse sua mão para salvar-me.
Achei-me, por fim, diante destas novas, estupendas, medíocres,
velhas e dolorosas constatações...
Quis a fuga,
quis a reta,
quis um muro construído entre uma e outra escolha;
quis uma tênue linha separando-as,
uma linha infinita onde tentei equilibrar-me.
Caí.
O meu ridículo plano esbarrou na presunção
de que poderia manter-me de pé como um divino
e perfeitíssimo equilibrista,
e na própria necessidade humana
de ter de usar os pés para equilibrar-me.
(E eis que várias vezes me flagro
andando medíocre e altivo em um dos lados do muro).
Quis enganar-me,
quis a calma de um sono eterno e impossível,
quis o terror de uma insônia infinda...
Só não consegui fugir da busca necessária e dolorosa de uma solução.

E ela veio:
verde como uma esperança;
uma tênue, retilínea e infinita esperança onde
me pendurei com toda a força tenebrosa de um verme
e a fraqueza medíocre de um deus.
E esta foi a certeza de que não deve haver muros
nem linhas entre o humano e o divino,
posto que ambas as partes que formam o Grande Todo,
– e o Grande Nada também,
o Grande Todo onde tudo vira Nada,
onde do Nada aparente surge Tudo,
num ciclo eterno e maravilhoso de átomos e matéria,
onde nada se perde a não ser a forma,
a perfeição, a mediocridade e a dor –
permanece onde nunca se dispersa a certeza inefável e terrível
de que todos iremos para Ele
e a Fé inabalável de estarem certas todas as certezas.

sábado, 25 de julho de 2015



                   A Severa Voz

                Ó vós, que açoitais o ermo das madrugadas,
                quem vos autorizou o canto?
                Pobre, obtuso, lerdo para o êxito nos lidames
                do vosso prosaico dia (sórdido palco em que habitas),
                eis que já dura por demais a vossa altiva récita.

                Muitos, mesmo dentre os vossos pares, ensurdeceram...
                Morto vosso pai, vossos tios, vossos avós
                – raízes desentranhadas, vendaval, quem sois?
                O tempo vil, a fome, este pesado corpo,
                a vida vilã, roubaram lentos
                a luz que houve um dia em vossa fronte.
                Tão frio, escasso – o vosso coração – dói ainda:
                uma brasa quase morta.

               Ainda tendes o direito?
               Trazeis ainda a senha?

               (Além, há silêncio sobre as papoulas plácidas,
               pingos de estrelas nas calçadas
               e um hipocampo rubro acaba de cruzar o céu
               sob olhar dos abismados astros – vedes?).

               Ah, é preciso ser mais louco...
               Irmãos, companheiros neste parco-inútil alarido:
               vede, como é desumano cantar qualquer canto
               – como mentimos!
               O que responder:
               mais verdadeiro ficarmos mudos.

terça-feira, 16 de junho de 2015

Outras navegações

 
"O beijo dos palhaços", óleo sobre tela do artista plástico sergipano (Neópolis-SE) Deolando Vieira.

terça-feira, 2 de junho de 2015

Poemas do livro "Folhedo" (Continuação)



Inquirição da Musa

Musa, por que vens perturbar minhas madrugadas?
Musa, submerso na noite, há pouco eu dormia, profundamente,
e sequer sonhava;
Musa, por que então, sorrateira, insinua-se a tua voz
em meu repouso, a me exigir o verso?
Musa, o mundo há muito jaz perdido e nada do que eu escreva
mudará esta verdade;
Musa, ontem havia pessoas morrendo nas calçadas – de fome,
de frio e de falta de vontade – e eu estava por demais apressado,
sobrevivendo, como todos os outros, para sequer me dignar a
                                                                                            [olhá-las;
Musa, como posso então e ainda erguer esta covarde pena
para falar de igualdades?
Musa, nesse exato momento, suspeito já do que disse – por ter dito
apenas para não calar, pois pedir desculpa me tranquiliza
                                                                                       [a consciência;
Musa, há muito tempo me conheço por demais
para mentir para mim mesmo – e descreio de tudo, e continuo...
Musa, eu: um cínico, há muito tempo...
Como podes (e como posso) ainda assim crer em mim, Musa?
Musa, de onde vens?
Por que eu escolhido para quebrar o frio e calmo silêncio
desta enorme sonolência?
Musa, da tua ingenuidade, quem te ampara?
Musa, quem me livrará da tentação de escrever estas palavras
apenas para elevar-me para além dos outros?
Musa, há muito tempo suspeito que é assim, e nada,
nada me consola o nojo;
Musa por que devo ser eu esse falador inútil, a impregnar
os outros com esta minha importuna mesquinha tristeza
                                                                                      [verborrágica?
Musa, vê, já a manhã desponta por entre as frestas do telhado
e logo será preciso erguer-me para encarar a vida. Então Musa,
o que serei amanhã?
Musa, amanhã estes versos risíveis talvez me insultem
apenas a ironia e nada de meu reconhecerei neles.
Musa, por vingança, eu posso rasgar esta página
que em silêncio subtraíste já do meu tranquilo sono.
Musa, voltarás amanhã?
Pois que voltes.
Volta, volta. Serás bem-vinda.
E para que esta tua visita não seja de todo inútil
eu te digo:
estou só no mundo,
sou fraco
– e esta tua indesejada companhia
é só o que me salva.

sábado, 2 de maio de 2015
















Poema para um amor futuro

Não hei-de ser perfeito.
Nem nada há em mim de encantado.
Na verdade, pesa sobre mim o peso da realidade
e jazem sobre o meu corpo as marcas
de todas as ilusões desfeitas,
de todas as quedas e cansaços...
Hei, entanto, de ser o que mais te ama,
e leve, a minha alma, por te amar tanto.

segunda-feira, 6 de abril de 2015

 
Para Mar
 
Ah, Mar...
a noite é tão breve...
e são tantos, tantos, todos os poemas
que ainda tenho que escrever.
Não entendes, eu sei:
és Mar,
e os mares nada precisam saber.
Um Mar é eterno,
tem todas as noites e todos os versos
de todos os tempos do mundo
– e eu sou apenas um poeta que te olha e se perde
nas ondas da busca tortuosa de uma inspiração.
Se ao menos soubesse nadar...
me jogaria nos braços macios de tuas águas de pele;
se ao menos tu me deixasses dormir
no teu colo morno de areia,
e cantasses só pra mim uma canção de tuas ondas;
se ao menos tu me desses as tuas mãos...
correríamos de mãos dadas pelas ruas dessa noite
como duas crianças,
e voaríamos por estes céus como duas aves oceânicas...

Mas és Mar,
a noite breve
e eu te olho poeta apenas.
Logo a manhã chegará tristonha e fria
e eu estou só...  

sábado, 7 de fevereiro de 2015









Saudação

Meu irmão marginal,
estas letras bem impressas,
esta capa bem cuidada,
estas palavras dispensáveis
– é a mesma loucura tua,
menos a tua sublime coragem...

terça-feira, 20 de janeiro de 2015















Palavra
            
             Para o poeta Luciano Rocha.

As palavras são caridosas:
sua frágil realidade nos engana
e nos consola.
                                 E. M. Cioran

Disseram-me: a palavra é o poeta.
O poeta não.
Então, que a tua palavra, ao menos,
vá, cresça, prossiga, destruidora
de todos os teus muros, irmão...
Independente da tua boca limitada
que pronuncia e que constrange;
independente dessa miserável comédia
que somos.

11.01.94

quinta-feira, 1 de janeiro de 2015

Verso maior


                   





Cabeça

Companheiros,
aqui está minha cabeça.

Além dos telegramas, dos jornais, dos partidos,
não sei se valerá mais que uma laranja;
talvez seja inútil até mesmo para o inimigo.
Mas é a única coisa que vos ofereço.
Se houver alguma luz, utilizai-a;
talvez sirva apenas para marcar o caminho
como uma pedra.

Não julgueis que a valorizo, seu único valor
é não ter preço;
ninguém a comprará, ela nada valerá
e por isso ficará no chão, enterrada no chão
como uma pedra.

Companheiros, aqui está minha cabeça.
Dela nasce e escorre este filete insignificante:
talvez seja poesia.

J. G. de Araújo Jorge*

*poeta acriano (1914-1987), considerado, apesar de ser um dos poetas mais populares e que mais vendeu livros na história da literatura brasileira, um poeta menor; poema incluído no livro “Canções”.