Cabeça
Companheiros,
aqui está minha
cabeça.
Além dos telegramas, dos jornais, dos partidos,
não sei se valerá
mais que uma laranja;
talvez seja inútil
até mesmo para o inimigo.
Mas é a única
coisa que vos ofereço.
Se houver alguma
luz, utilizai-a;
talvez sirva
apenas para marcar o caminho
como uma pedra.
Não julgueis que a valorizo, seu único valor
é não ter preço;
ninguém a
comprará, ela nada valerá
e por isso ficará
no chão, enterrada no chão
como uma pedra.
Companheiros, aqui está minha cabeça.
Companheiros, aqui está minha cabeça.
Dela nasce e escorre este filete insignificante:
talvez seja poesia.
J. G. de Araújo Jorge*
*poeta acriano (1914-1987),
considerado, apesar de ser um dos poetas mais populares e que mais vendeu
livros na história da literatura brasileira, um poeta menor; poema incluído no
livro “Canções”.
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