Percorrer veredas, barrancas e
cidades situadas às margens do Rio São Francisco para registrar, em imagens e
palavras, a alma do grande rio da unidade nacional, foi a aventura a que se
propuseram os mineiros Gustavo Nolasco e
Leo Drumond.
No percurso, os dois vieram
recolhendo histórias, vivências, vidas e imagens que compõem um belo, metafórico
e ao mesmo tempo antropológico painel do significado, importância e interferência
do “Velho Chico” nas vidas de moradores que nasceram recebendo, já no batismo
de suas águas, o emblemático nome de Francisco ou Francisca (Chicos e Chicas,
como consagrado pelo uso popular). E assim, da nascente até a foz do São
Francisco, cada cidade teve o seu Chico ou Chica como emblema, como fragmento
desse mosaico construído pelos dois, cada um em sua arte, em seu ofício. No
Penedo, quase no apagar das luzes de sua jornada, Gustavo e Leo escolheram dois
Chicos: um certo Chico Araújo, poeta que não sabia (e até hoje não sabe) nadar,
e o músico Francisco Moraes...
O resultado do trabalho, que consumiu
três anos das vidas de seus autores, foi registrado e reunido no livro Os Chicos – Prosa e fotografia, publicado
pela Nitro Editora (Belo Horizonte, 2011), tendo sido lançado nas principais
cidades focalizadas, em momentos muito especiais que marcaram o reencontro do
fotógrafo e do jornalista com seus personagens e consistiu na concretização de
um compromisso assumido com cada Chico e Chica. A obra, de excelente qualidade literária,
visual, gráfica e editorial, impressa em dois volumes (um registrando as fotografias
tiradas por Leo Drumond e outro a prosa poética e jornalística de Gustavo
Nolasco), teve prefácio do escritor Fernando Morais, e rendeu a Leo Drumond o Prêmio Jabuti 2012 na categoria fotografia,
uma das mais importantes premiações que um autor pode receber no Brasil.
O livro, portanto, não teve lançamento,
mas diversos lançamentos, evento que aconteceu em Penedo na noite do dia 03 de dezembro de 2011, no
mais que secular palco do Theatro Sete de Setembro. As fotos abaixo, tiradas por Leo Drumond, registram a
beleza e a poesia dessa noite de encontros e alegria, podendo ser acessadas
também no site Os Chicos (ver Links).
Livro "Os Chicos – Prosa e Fotografia", editado em dois
volumes: o registro iconográfico de Leo Drumond (capa preta)
e o registro literário de Gustavo Nolasco (capa vermelha)
O Theatro Sete de Setembro na noite do lançamento
A seleta platéia durante o evento
Secretária de Cultura Eliana Cavalcanti, representando a
Prefeitura Municipal de Penedo (um dos patrocinadores
do lançamento), fala durante a solenidade
Chico Fotógrafo (de Propriá-SE), Leo Drumond, uma das
coordenadoras do projeto "Os Chicos", Gustavo Nolasco,
Chico Araújo e Chico Moraes no palco do Theatro Sete
de Setembro, durante o lançamento
(Foto: Eliana Cavalcanti)
Autores e personagens, durante a sessão de autógrafos,
em foto registrada por Eliana Cavalcanti
O poeta que não sabia nadar
Francisco Araújo Filho, desde criança,
desenvolveu mais a habilidade com as mãos do que a correria com os pés. Seja
jogando futebol de botão e escrevendo poemas ou deixando de jogar futebol de
rua e não podendo se divertir no barro das chuvas.
Garoto tímido, filho de mãe severa e pai
amante dos livros, Francisco nasceu numa cidade carregadíssima de significados
e conquista: Penedo.
Esse pedaço de terra que pariu nosso
Francisco viveu momentos decisivos da história brasileira. Foi em 1560 que os
portugueses pararam por lá pela primeira vez, na perseguição aos índios caetés,
acusados de literalmente comerem o bispo Sardinha. De povoado, virou a Vila de
São Francisco para, um ano depois, ser dominada pelos holandeses e novamente trocar
de nome: Maurícia.
E como os livros já nos contaram, os batavos
foram expulsos de todo o Brasil e a vida portuguesa voltou ao normal também em
Maurícia, ou melhor, Penedo. Nos tempos modernos ficou o orgulho dos moradores
pela beleza da cidade, um dos mais importantes e ricos conjuntos arquitetônicos
do Brasil Colônia ainda preservados.
E ali mesmo, na ambigüidade da liberdade
proporcionada por um grande rio e o clima carregado de qualquer cidade
histórica, que nasceu nosso Francisco, na década de 60.
E nada melhor do que a combinação
repressão/liberdade para marcar tanto os anos 60 quanto a vida de Francisco. Se
de um lado vivia sob a timidez, a asma e o olhar repressivo da mãe que o
impedia de viver solto nas ruas e no rio, conheceu a poesia e toda a possibilidade
dada por ela para buscar, cantar e gritar a liberdade.
Foi quando leu sobre a vida dos grandes
poetas e assim as resumiu: “quase todas eram histórias de fracasso. Pessoas que
fracassaram enquanto indivíduos na vida pessoal, mas deixaram obras que os
imortalizaram”.
Francisco viveu depressões. Mas desde a
publicação do seu primeiro poema na Tribuna Penedense, iniciou uma vida de
artista das letras, admirada em toda a cidade. Ele se tornou o Chico Poeta de
Penedo. Escreveu livros e carregou o nome de sua terra por onde passava,
inclusive, para os humildes alunos da escola de Betume – distrito da cidade
sergipana de Neópolis, do outro lado do Velho Chico –, onde é professor.
E se preciso for destacar uma curiosidade na
biografia do poeta de Penedo, a principal delas está relacionada ao grande rio.
Mesmo nascendo, crescendo, morando e trabalhando às margens do São Francisco,
Chico Poeta nunca aprendeu a nadar, tarefa que precisaria da dupla habilidade
mãos/pés.
Parodiando o próprio Francisco Araújo, talvez
esta seja uma mediocridade necessária em sua vida pessoal para se enquadrar nas
biografias dos grandes poetas…
Gustavo Nolasco, em versão disponível no site Os Chicos (Livro publicado pela Editora Nitro, Belo Horizonte – 2011, páginas 145 a 148).
O Chico penedense nas lentes do fotógrafo Leo Drumond – Prêmio Jabuti de Fotografia 2012
Francisco Araújo, o Chico Poeta, escolhido
por Gustavo Nolasco e Leo Drumond como
um dos Chicos ribeirinhos do Penedo
(Foto: Leo Drumond)
Foto: Leo Drumond
Foto: Leo Drumond
Foto: Leo Drumond
Foto: Leo Drumond
Foto: Leo Drumond
Foto: Leo Drumond