Poema para o povo
Para o povo este poema.
O
povo, entanto, não o lerá.
O
povo, neste momento, está morrendo
–
sob as marquises, nos sertões, nas favelas
–
nos viadutos, nos canaviais, nas vielas.
O
Povo, poeta, não lê.
Disso
decorre que o verso não vale a pena.
Disso
decorre, poeta, que o teu poema
não
serve para nada.
Disso
decorre que não estás fazendo a tua parte.
E
se não fazes, num poema, a tua parte, poeta
a
tua parte não está em parte alguma.
Poeta
escreves: para nada.
Pátria
futura, construção da igualdade, mundo sonhado
nasce
e morre com uma inconseqüência abjeta
–
neste teu verso inútil, poeta.
Não
mudas, não mudas o mundo.
Poeta,
não mudas nada.
Decretada,
desde sempre, a tua sentença:
–
Aprende, poeta, de uma vez por todas,
a
viver sem poesia.