terça-feira, 16 de setembro de 2014












Poema para o povo
 


Para o povo este poema.
O povo, entanto, não o lerá.
O povo, neste momento, está morrendo
– sob as marquises, nos sertões, nas favelas
– nos viadutos, nos canaviais, nas vielas.
O Povo, poeta, não lê.
Disso decorre que o verso não vale a pena.
Disso decorre, poeta, que o teu poema
não serve para nada.
Disso decorre que não estás fazendo a tua parte.
E se não fazes, num poema, a tua parte, poeta
a tua parte não está em parte alguma.
Poeta escreves: para nada.
Pátria futura, construção da igualdade, mundo sonhado
nasce e morre com uma inconseqüência abjeta
– neste teu verso inútil, poeta.
Não mudas, não mudas o mundo.
Poeta, não mudas nada.
Decretada, desde sempre, a tua sentença:
– Aprende, poeta, de uma vez por todas,
a viver sem poesia.