Aqui, versos prontos para viagens várias, para navegantes ou para transeuntes que, do cais, podem vislumbrar a paisagem... Por que a poesia é o outro lado da aridez, tentativa da construção do sonho, mesmo a partir da adversidade; sonho colhido nas palavras dos mestres, empreendimento sempre a ser compartilhado com o outro. Podem içar as velas...
domingo, 1 de julho de 2007
Do livro "Ruas e rios" (continuação)
Torturas*
Ontem eles vieram (diurnos vampiros)
com uma nova sórdida tortura
sutil
disfarçada em letal cristal polido
Tiveram ao menos a decência do álibi —
minha aparência: “É preciso raspar a cara”
E lá estava (sob ela) a triste figura
eu, o esquálido
o pálido
o esqueleto falante e teimoso
o graveto
o “caveirinha” dos vizinhos
eu, refletido na superfície polida do espelho
um traste
um velho protótipo do que sempre fui
Quiseram apenas que eu soubesse
que a dor persiste
que morri há tanto tempo que já nem sei
que morri e não me avisei...
Tivesse eu essa certeza
talvez até me fosse um conforto...
* Poema assinado sob o pseudônimo João da Rocha.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Um comentário:
parece mesmo que "tem dias que a gente se sente como quem partiu ou morreu"...
ao menos estamos vivendo tempos melhores. podemos sussurar ou mesmo gritar nossas angústias e dissabores livremente.
mas, afinal, por que [ainda] nos sentimos desse jeito? será que "...a gente estancou de repente ou foi o mundo então que cresceu?"
Postar um comentário