Aqui, versos prontos para viagens várias, para navegantes ou para transeuntes que, do cais, podem vislumbrar a paisagem... Por que a poesia é o outro lado da aridez, tentativa da construção do sonho, mesmo a partir da adversidade; sonho colhido nas palavras dos mestres, empreendimento sempre a ser compartilhado com o outro. Podem içar as velas...
sábado, 12 de maio de 2007
Eu, homem da Galiléia
Na verdade, vos disse tão pouco...
Eu, cansado de tantas faces tristes,
apenas vos disse: vivam.
Não havia um mistério,
não havia um plano...
Havia apenas elevações áridas,
uma montanha,
uma brisa tão suave a soprar sobre a terra nua...
Não pedi rostos velados,
escapulários, túnicas, mortalhas...
Eu, cansado de tantas faces mortas,
apenas vos disse: sorriam.
Não havia porque mosteiros,
não havia porque clausuras...
Havia apenas uma relva tão verde,
havia apenas uma esperança tão minha...
Eu, cansado de tanta dor,
apenas vos disse: lutem.
Não havia penitências, flagelos,
não havia confissões, inquéritos...
Havia apenas um vasto campo a esperar sementes,
havia apenas um sede urgente de libertação...
Eu, cansado de todos os Césares,
não pedi vossos tronos de oiro,
genuflexões, ósculos, lavabos...
Na verdade, quis tão pouco:
uma verdade,
uma paz,
uma esperança,
uma morte no madeiro
(por que negar o tão pouco que vos disse?).
Não havia porque tantas guerras santas,
não havia porque tanto esperar por santos,
não havia porque matar também as palavras minhas
e a minha alma já por demais dilacerada e nua...
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2 comentários:
Caro Francisco,
Se eu não o conhecesse, diria que o autor desse poema é um cristão reformado.
Gostei!
Abraços,
João Pereira.
Consócio João,
Obrigado pelo comentário.
Quanto ao ser cristão, a questão é: quem hoje é realmente cristão?
Considero-me cristão(e apenas nesse sentido considero-me cristão)enquanto admirador da mensagem do Cristo, com a qual me identifico (e esse poema é um reflexo dessa identificação). Nesse sentido, sou tão cristão quanto sartreano (isto é, aquele que admira a filosofia de Sartre). Ambos são, para mim, mestres.
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