Via crucis
Sobre
o negro asfalto um cão morto:
os
olhos baços a fitarem desconsolados o infinito,
estendido
e desamparado no seu desconcerto de morto;
a
vermelhidão de suas entranhas expostas a ecoar
estrada
a fora, como um grito, impregnando de morte
o
caminho dos passantes.
Mesmo
os mais indiferentes, pestanejam ao passarem
adiante,
tocados por sua terrível verdade.
(Quando
ainda pulsava-lhe a tênue centelha
ele
vagou vadio pelas calçadas,
enxotado
e pisoteado pela humana brutalidade,
a
pastar os restos dos açougues e mercados,
no
seu andar medroso e indefeso
dos
que já apanharam muito.
E
ainda assim persistindo, persistindo, apegado
vilmente
ao mundo).
Que
potência desencadeou essa insignificância?
Que
desígnio terrível a manteve viva
até
o momento em que o carro do rico executivo
a
libertou da vida?
Há
de ter um sentido para essa vinda inútil.
Há
de existir uma finalidade para esse absurdo.
Ó
vós, vós que passais céleres
para
o desempenho de vossas importantíssimas tarefas
–
decifrai, decifrai
este enigma que sobre o asfalto jaz morto...
este enigma que sobre o asfalto jaz morto...
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